Na temporada 2024/25, os investimentos de empresas de criptomoedas em patrocínios esportivos atingiram cifras expressivas, com destaque para o futebol. Segundo levantamento da B2Binpay, o setor aplicou cerca de US$ 565 milhões globalmente, o que corresponde a aproximadamente R$ 3 bilhões. Do total, o futebol absorveu quase 60%, ou seja, cerca de US$ 340 milhões (R$ 1,8 bilhão) destinados à associação com clubes e competições em todo o mundo. Esse cenário reflete o aprofundamento da relação entre o universo cripto e o esporte mais popular do planeta.
Apostas em futebol e cripto: convergência de tendências
Além do patrocínio direto e da inovação tecnológica, há uma sinergia crescente entre criptomoedas e o universo das apostas em futebol. Plataformas de apostas esportivas frequentemente aceitam criptomoedas como forma de pagamento, atraindo torcedores que buscam praticidade e anonimato. Esse ambiente estimula uma relação dinâmica entre fandom, engajamento e operação financeira digital.
O uso de cripto em apostas permite depósitos e saques instantâneos, baixa taxa de conversão e maior liberdade operacional — fatores que têm impulsionado o uso dessas moedas em sites de apostas. Esse segmento é uma das principais vias de penetração da criptoeconomia no cotidiano do consumidor digital, especialmente entre os fãs de futebol.
Cripto no centro dos patrocínios esportivos
Ao contrário do que ocorre no Brasil — onde parte significativa dos patrocínios esportivos ainda vem de empresas de apostas — no exterior o principal motor financeiro passou a ser o setor de criptomoedas. Com aportes robustos, essas empresas migraram do universo digital para os estádios, estampando suas marcas em camisas, placas publicitárias e eventos oficiais.
Além das marcas tradicionais, a tecnologia blockchain foi incorporada de formas inovadoras aos programas de fidelidade e interação com torcedores. Os chamados “fan tokens”, por exemplo, oferecem funcionalidades semelhantes aos programas de sócio-torcedor, com possibilidade de votar em decisões do clube, acesso a conteúdos exclusivos e recompensas especiais. Um caso emblemático é o token $JUV da Juventus, que alia engajamento e exclusividade.
NFTs como ingresso para experiências VIP
Não se trata apenas de colecionáveis digitais. Alguns NFTs vinculados a clubes concedem acesso a experiências VIP, bastidores e até treinos com jogadores. O Barcelona lançou a coleção “In a Way, Immortal”, que concede ao comprador o título de “Barça Digital Ambassador”, com direito a hospedagem no clube por cinco anos, oportunidade de jogar no Estádio Spotify Camp Nou e até entrega oficial da bola em amistoso.
No Brasil, uma iniciativa similar foi lançada pela Binance em parceria com a CBF: um NFT que permite ao torcedor acumular pontos durante a temporada para resgatar ingressos VIP, camisas autografadas e outras experiências exclusivas com o campeonato. Essa combinação de tecnologia e ativação de fã demonstra como a criptoeconomia está se entrelaçando com o engajamento esportivo.
Pagamentos em criptomoedas: transferências, salários e operações
Alguns clubes e atletas começaram a experimentar pagamentos diretamente em criptomoedas, especialmente em stablecoins, pela agilidade e praticidade nas transações internacionais. Em 2021, o espanhol David Barral tornou-se o primeiro jogador transferido integralmente com criptomoedas. Já o São Paulo, no Brasil, adquiriu o argentino Giuliano Galoppo pagando US$ 6 milhões em USDC, uma stablecoin atrelada ao dólar.
Desafios na adoção de cripto no esporte
Por mais que o potencial seja grande, existem desafios relevantes. A regulamentação das criptomoedas ainda é incipiente em muitos países, e o esporte nem sempre dispõe de infraestrutura ou transparência suficientes para lidar com transações cripto. A volatilidade, os riscos de lavagem de dinheiro e a necessidade de governança clara são barreiras importantes para que o setor se profissionalize.
Além disso, o envolvimento direto com tecnologia blockchain exige educação e cultura digital — tanto por parte dos clubes quanto dos torcedores. A adoção de fan tokens, NFTs e pagamentos em criptomoedas demanda conscientização sobre direitos, segurança e privacidade, elementos que ainda estão em construção no Brasil e na América Latina.
O potencial de engajamento e inovação
No entanto, as possibilidades são vastas. A combinação entre cripto e futebol abre espaço para modelos financeiros inovadores, como “tokenização de ativos” (ex: participação em receitas, direitos de imagem) e crowdfundings digitais para projetos de infraestrutura. A utilidade da tecnologia blockchain para fidelização de torcedores e monetização de forma direta ainda está em fase inicial, mas se mostra promissora.
Os clubes que souberem integrar cripto de forma estratégica — seja por meio de patrocínios, fan tokens, NFTs ou pagamentos — poderão criar novas fontes de receita e fortalecer suas relações com torcedores, especialmente entre os jovens que já circulam ativamente no universo digital.
Conclusão
O investimento de R$ 1,8 bilhão de empresas de criptomoedas no futebol durante a temporada 2024/25 marca um ponto de inflexão na conexão entre esporte e tecnologia digital. Essa verba reflete a confiança do setor cripto no poder de mobilização do futebol e na capacidade de transformação dos modelos de engajamento e monetização. Ao mesmo tempo, a convergência com o universo das apostas em futebol reforça a integração entre cripto, entretenimento e economia digital. Cabe a clubes, torcedores e reguladores construírem caminhos seguros e transparentes, aproveitando o potencial transformador da blockchain dentro e fora dos estádios.