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O sumiço das camisas de manga longa do futebol

by André Coutinho
O sumiço das camisas de manga longa do futebol
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As camisas de futebol vêm sofrendo, a cada ano, mudanças, seja em conceitos de design, tecnologias de respiração, matéria prima, entre outros, mas sempre com o mesmo formato. Porém, uma tendência do vestuário esportivo tem deixado de lado uma das tradições do esporte: as estilosas mangas longas.

Já reparou que, de uma hora para a outra, elas sumiram? Fomos pesquisar o motivo, e descobrimos um belíssimo dossiê sobre o assunto, assinado pela revista Veja. Abaixo listamos os principais motivos para o sumiço das mangas longas, que por muito tempo foram tratadas como peças estilosas pelos torcedores. Confira!

Primeiros uniformes

O sumiço das camisas de manga longa do futebol

Primeira camisa da Inglaterra (1872) – Foto National Museum

As primeiras camisas de futebol eram o total oposto do que vemos hoje. Possuíam mangas compridas e não curtas, e material grosso e pesado, a fim de fugir do rigoroso inverno europeu, principalmente na Inglaterra, berço do esporte.

O sumiço das camisas de manga longa do futebol

Corinthians 1916 – Foto: Acervo Alfredo Testoni/Editora Abril

No Brasil não foi diferente, apesar do clima. É só procurarmos fotos dos times do começo do século XX, que teremos a mostra de que os mantos traziam as mangas compridas, tendo as opções com mangas curtas aparecido bons anos depois.

Opção para o frio

O sumiço das camisas de manga longa do futebol

Com o tempo, as mangas curtas foram assumindo o espaço de “modelo padrão” no esporte, sendo a primeira opção das equipes e deixando as mangas compridas para os climas frios, o que fez com que elas fossem mais vistas na Europa do que no Brasil, por exemplo. Com o advento do comércio de camisas, sempre foi costumeiro colocar a disposição os dois modelos, sendo que o de mangas longas normalmente possuía um preço maior.

O sumiço das camisas de manga longa do futebol

Foto: Fernando Maia/Agência O Globo

Por aqui, essa prática também era realizada e os uniformes de manga longa costumavam aparecer bastante nos jogos na região Sul (Caxias do Sul, principalmente) e nas partidas de quarta e quinta-feira a noite. Também vimos muitos times com camisas de manga comprida em jogos da Libertadores, Copa Mercosul, Copa Conmebol e Sul-americana, além dos mundiais disputados no Japão. A estratégia de vendas era a mesma da Europa.

Sumiço repentino das mangas longas

O sumiço das camisas de manga longa do futebol

Foto: Meu Timão

A Veja entrevistou o designer holandês Floor Wesseling, que trabalhou durante cinco anos na Nike, e revelou que o principal motivo do desaparecimento das camisas manga longa no futebol foi a mudança de estratégia. “Quando comecei a desenhar camisas de futebol para a Nike, em 2011, a marca decidiu parar de fazer mangas compridas para os jogadores, e também para os torcedores, para empurrar o mercado na direção das camisas térmicas”, disse, recordando também que os atletas deram sua preferência para o novo estilo.

Foto: Oscar del Pozo/AFP Photo

Podemos compreender essa estratégia quando lembramos que uma camisa com mangas compridas tem custo de produção até 10% maior e, por isso, sempre foi vendida a um preço maior. No Brasil, esse tipo de peça tinha pouca saída, uma vez que o clima não é propenso. Com o uso cada vez maior das “segundas peles” pelos profissionais, é normal que haja aumento na procura por esses produtos para usar juntamente da camisa, ou seja, ao invés de vender um produto (manga longa) um pouco mais caro, a Nike, Adidas, PUMA, e outras, vendem a camisa, mais a segunda pele, aumentando ainda mais os lucros. A própria FIFA já regularizou o uso, determinando que ela seja da mesma cor da camisa. Os jogos de videogame também dão essa opção na hora da personalização de jogadores.

O sumiço das camisas de manga longa do futebol

Foto: Divulgação

A situação atual é que 99% dos atletas profissionais utilizam a segunda pele por baixo do uniforme, que têm como principal função regular a temperatura corporal ,além de serem uma opção mais leve e ajustada ao corpo. Nos dias de calor, os jogadores vestem modelos regatas ou manga curta, enquanto em temperaturas frias a segunda pele é comprida, mas sempre com a camisa do time de manga curta por cima. Consequentemente, já se tornou raro encontrar camisas manga longa em lojas, inclusive em países que a temperatura é baixíssima, como a Rússia.

O sumiço das camisas de manga longa do futebol

Foto: Getty Images

Até mesmo os goleiros passaram a utilizar a segunda pele com manga curta por cima, logo eles que vestiam camisas especiais de manga comprida, almofadadas para as quedas.

O sumiço das camisas de manga longa do futebol

Foto: Sebastién Nogier/EPA

Outro motivo, muito menos responsável por esse sumiço das mangas longas, é a vaidade dos jogadores, que estão cada vez mais tatuados e gostam de mostrar os desenhos pelo corpo.

O sumiço das camisas de manga longa do futebol

Foto: Getty Images

Recentemente, tivemos um episódio bem curioso sobre esse assunto. No Arsenal, o capitão é quem decide como a equipe deve atuar (em relação aos uniformes) e, em um jogo contra o Manchester United na temporada 2012-2013, o zagueiro alemão Mertesacker, que possuía a braçadeira, e gostava de manga comprida, propôs que a equipe atuasse assim. Todos aderiram, menos o meio-campista francês Flamini, que resolveu cortá-las, atuando de “mangas curtas”. Isso se repetiu no duelo contra o Olympique de Marseille, pela Liga dos Campeões, dias depois, o que causou irritação no treinador dos Gunners na época, Arséne Wenger.

Os “rebeldes”

O sumiço das camisas de manga longa do futebol

Foto: Getty Images

É claro que em toda moda existem aqueles que são contra, ou que simplesmente tem gostos diferentes. No caso das mangas compridas, talvez o principal “embaixador” na história do futebol tenha sido David Beckham, e sabemos que “tudo” que o inglês faz se torna marketing. Foi graças ao antigo camisa 7 da Seleção Inglesa, que sempre utilizou este modelo de uniforme, que as mangas compridas se tornaram algo “fashion” e estiloso durante sua carreira. Ele vestiu mangas compridas até mesmo no Brasil, no Mundial FIFA de 2000, num Maracanã com 40°.

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Foto: Nelson Almeida/AFP Photo

O segundo grande nome nesta lista de “rebeldes” é Cristiano Ronaldo, que desde que começou no futebol profissional, lá no Sporting, é adepto das mangas compridas. No Manchester United, Real Madrid e agora na Juve, além da Seleção Portuguesa, é nítida a preferência do atleta. Floor Wesseling, novamente à revista Veja, revela que, na Copa de 2014, em que desenhou os uniformes das seleções Nike, somente um atleta se recusou a utilizar apenas camisas de manga curta: CR7. Por isso, ele teve de desenhar um modelo exclusivo de manga longa para o gajo, que a utilizou em um jogo e meio (Portugal caiu na primeira fase).

Muita gente fala que essa preferência do cinco vezes Bola de Ouro é uma questão de superstição, afinal, as maiores decepções da carreira de CR7 foram utilizando mangas curtas: a derrota na final a Euro 2004 e a derrota nas semifinais da Copa do Mundo 2006. Enquanto isso, as maiores glórias do atleta foram conquistadas com a manga comprida: suas cinco Champions League (uma com o Manchester United e quatro com o Real Madrid), a Euro 2016 e a Nations League 2019, com Portugal. Apesar de vaidoso, o atleta não tem tatuagens no corpo, por fazer parte, constantemente, de campanhas de doação de sangue.

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Foto: Getty Images

E por último, Antoine Griezmann. O atacante francês também tem preferência pela manga longa e adivinha o motivo? Sim! David Beckham. Na final da Copa do Mundo 2018, quando foi campeão com a França Griezmann foi o único jogador em campo a vestir camisas neste estilo. Em entrevista à GQ, o atleta revelou que não são só nas mangas que ele se inspira em Beckham. “Gosto de mangas longas e da camisa 7 por causa do Beckham. É meu ídolo”, disse.

Legado

O sumiço das camisas de manga longa do futebol

As notícias então não são boas aos fãs mais saudosistas das camisas manga longa. A tendência é e que, com o passar do tempo e a aposentadoria de Cristiano Ronaldo e Griezmann, elas deixem de existir de vez, a não ser que haja uma grande reviravolta nas estratégias das fornecedoras ou algum novo ícone apareça. O que podemos dizer é que elas marcaram época no futebol e deixaram um legado de mantos incríveis na história, se eternizando nas páginas futebolísticas.

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