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Champs: Ascensão e queda da polêmica fornecedora nos anos 2000

by André Coutinho
Champs
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Vocês se lembram da Champs? A marca do ABC paulista surgiu na segunda metade dos anos 2000, se tornou fornecedora de um monte de equipes rapidamente, chegando até a vestir o Vasco da Gama e o Vitória, e tão rápido quanto, desapareceu.

Champs

A Champs surgiu no cenário do futebol em 2006, quando a Leandrini Indústria e Confecções Ltda. decidiu investir pesado no futebol, criando esta marca como seu braço principal. Sua primeira equipe conhecida foi o Bragantino, que disputou o Paulistão do mesmo ano trajando os uniformes da marca, que até trouxe de volta a camisa “Carijó” como modelo reserva. O Braga, inclusive, foi a equipe que mais vestiu a marca, tendo encerrado contrato somente em 2010.

A partir daí, foi um crescimento enorme por parte da Champs. A primeira expansão da marca foi pelo estado de São Paulo, onde se tornou fornecedora da Portuguesa de Desportos, Guarani, Ponte Preta, ItuanoSão Caetano e Taubaté e ficou famosa, entre outras coisas, por estampar os mascotes dessas equipes no lado direito do peito na camisa, um padrão não muito comum.

Com o sucesso no estado de São Paulo, a empresa decidiu então passar a tentar dar passos ainda maiores. A ideia era começar a vestir as maiores equipes do futebol brasileiro e porque não, se expandir pelo mundo.

No ano de 2008, a empresa passou a ser fornecedora de algumas equipes fora do estado de São Paulo, como o AvaíIpatinga, que acabara de disputar a primeira divisão do Campeonato Brasileiro, o Brasiliense e os grandes pernambucanos Náutico e Santa Cruz. Mas ela queria mais.

Os alvos agora eram três das maiores equipes do futebol brasileiro: o Vitória, o Vasco da Gama e o Corinthians, que acabara de contratar Ronaldo e estava voltando à primeira divisão e seria o carro-chefe da marca. O Timão acabou rejeitando a proposta da marca, muito por conta do próprio fenômeno, embaixador da Nike, sua fornecedora de 2003.

Mas o Vitória e o Vasco toparam a parceria, e foi aí que começou o auge (e também a queda livre) da Champs, bem ao estilo “quanto maior o vôo…”

A empresa a esta altura era a fornecedora de 19 clubes espalhados pelo Brasil, mais o Ibiza, da Espanha.

Em entrevista ao site Máquina do Esporte, em dezembro de 2008, a dona da Champs na época, Mariceli Leandrini, a “Mary da Champs”, explicou quais eram os planos e objetivos da marca, chegando a se comparar até com Bill Gates.

ME: Como surgiu a Champs e quais são as ambições da marca?

Mary: Respeitando todos os nossos concorrentes, a tendência da marca é crescer cada vez mais. Queremos fechar com o maior número de times possíveis. Somos uma empresa de mais de 50 anos, consistente e familiar. A marca surgiu porque nós sempre confeccionamos para os outros. Com isso ganhamos um know how muito grande e daí surgiu a Champs. Hoje nós estamos atendendo bem ao mercado, tentando ganhar nosso espaço e conseguimos esse ápice com o Vasco. Isso vai servir para que os clubes vejam que aqui no Brasil tem produtos com a mesma qualidade do exterior.

ME: E o patrocínio a clubes de futebol, especialmente os grandes, é o caminho para que a marca consiga o espaço desejado?

Mary: Com certeza. Uma fusão de marcas, entre você e o clube, alavanca muito a imagem. No futebol é isso. Tem de atender bem, aplicar uma logística adequada, tratar bem o torcedor. Para ser arrojada e agressiva, queremos ser a primeira marca nacional. A projeção nossa é de quatro a cinco anos. Isso porque hoje nós somos, ao mesmo tempo, marca e fábrica, o que nos dá uma agilidade muito grande.

ME: Esse poderio pode favorecer na briga pelos principais clubes?

Mary: Pode sim. Eu tive a procura de dois clubes grandes nesse ano. Só que, pelo meu planejamento, eu tive de deixar para o próximo ano, até para poder honrar meus compromissos. Todo mundo vai ter de olhar o mercado com outros olhos.

ME: E qual o peso do fator desconhecimento da marca? Muitos clubes rejeitam o negócio por se tratar da Champs? Existe esse preconceito?

Mary: Existe sim. Mas tudo bem. O Bill Gates começou em uma garagem com o Windows, e outras marcas também começaram pequenas. Uma Nike foi surgindo aos poucos, pedindo espaço no mercado. Só temos de entrar no mesmo caminho. Pode incomodar? Pode. Mas a minha empresa trabalha com muito respeito no mercado.

A parceria com o Vasco prometia muito. Segundo as notícias da época, além do alto valor pago para a equipe carioca (R$ 23 milhões) e a contratação de jogadores, a marca iria disponibilizar vários tipos de material, como uma coleção fashion, e que as camisas seriam vendidas a R$ 40, um preço muito baixo já na época, mas o que se viu foi bem diferente.

A torcida vascaína dificilmente viu as peças da Champs à venda nas lojas. Os comerciantes diziam na época terem dificuldades de receber os pedidos da marca, isso quando recebiam. Alguns denunciaram que pagaram por mercadorias que não chegaram. Outros garantiram que ganharam de presente duplicatas de valores indevidos por compras que nunca fizeram. Vários foram os cancelamentos de pedidos por parte de comerciantes e principalmente, prejuízo deles, que tiveram que devolver dinheiro de pré-venda a torcedores.

O que se viu a partir daí foi uma serie de problemas e gafes por parte da marca junto ao clube, a começar pelas primeiras peças que foram amplamente criticadas pela torcida, principalmente pela ousadia e que tiveram a apresentação marcada por um erro no qual foi tocado o hino do Botafogo.

Dentro de campo, a situação foi ainda pior: o time da Copa São Paulo de Futebol Júnior utilizou um jogo de uniformes “tampão”, enquanto a comissão técnica teve de utilizar materiais da fornecedora anterior, a Reebok. O elenco profissional também precisou atuar com esse uniforme durante o Campeonato Carioca e no começo da Copa do Brasil e para piorar, não recebeu material de viagem, tendo que utilizar os de treino durante eventos e jantares. Para tentar diminuir o problema, a marca chegou a distribuir calças jeans aos jogadores. E o curioso é que sempre havia algum motivo de força maior apresentado pela empresa: roubo de contêiner, sabotagem dentro da própria empresa, Natal e Ano Novo, mudanças em departamentos, entre outros.

Fora de campo, a situação não era melhor. A oposição do Vasco, derrotada um ano antes, pressionava o presidente Roberto Dinamite para apresentar os detalhes do contrato com a marca, dizendo que tinham uma proposta 25% maior da própria Champs e que a empresa era de pequeno porte, com um faturamento de apenas um terço do que prometia pagar. Enquanto isso, o presidente bradava “Vasco é Champs e Champs é Vasco”.

Viáfara com meiões do Vasco

Em fevereiro de 2009, começaram a circular as primeiras notícias de que os cheques da empresa estavam sem fundo e em seguida, alguns times começaram a reclamar da fornecedora. O Guarani por exemplo, reclamou da qualidade do material, já que durante partida contra o São Caetano, a camisa de um dos atletas ficou com o escudo dependurado. O goleiro do Vitória na época, Viáfara, atuou em uma partida com meião do Vasco, pois não recebeu o da própria equipe. O próprio Vasco teve algumas camisas se descosturando durante os jogos e jogadores reclamando firmemente dos meiões, que escorregavam canela abaixo.

Em abril, surge a informação de que a Champs não estava pagando o Vasco. Logo depois, a Ponte rompeu com a marca, que alegou sabotagem da torcida por também ser fornecedora do Guarani. Tamanha crise, fez a marca procurar alternativas para tentar arcar com os compromissos, chegando até a procurar a Lupo para sacramentar uma fusão, algo que não chegou a se concretizar, embora até anúncio oficial tenha ocorrido. Um ano depois, a Lupo criou a Lupo Sport e chegou a ser fornecedora de diversas equipes, inclusive do Atlético Mineiro, campeão da Libertadores 2013. Até hoje a marca está na ativa, sendo atualmente a fornecedora do América Mineiro e da Ferroviária de Araraquara.

Com a não fusão, a Champs continuou em grave crise financeira e o que se falava é que a marca não estava mais pagando os valores mensais ao Vasco, que confirmou em maio daquele ano a dívida. Até aí, a Champs havia perdido também o Santa Cruz e o Ipatinga e recebia diversas críticas por parte do Brasiliense.

Foi então que após muita pressão da oposição, torcida, varejistas, comissão técnica e jogadores, o Vasco resolveu pedir a rescisão do contrato, no dia 17 de maio de 2009, algo que não foi nem um pouco bem recebido pela marca, que começou a debater com a equipe na mídia e entrou com processo contra o cruzmaltino. O time de São Januário assinou com a Penalty logo depois.

A perda do Vasco fez a marca desandar. Se em 2009 a Champs chegou a ser fornecedora de 19 equipes, em 2010 ela passou a ter apenas o Bragantino em seu catálogo, o primeiro a vestir a marca e o último a abandonar a barca, no final daquele ano, sentenciando  fim da “Era Champs”.

Mas não acabou por aí o inferno astral da empresa. Em 2013, a “Mary da Champs”, citada anteriormente, foi presa, acusada de estelionato e de ser chefe de uma quadrilha que assaltava caixas eletrônicos. Na época, a polícia encontrou na casa dela quatro carros e cinco motos que seriam usados para a realização dos crimes. Ela foi acusada de desviar R$ 2 milhões do dinheiro roubado também.

Que história hein? Quanta coisa aconteceu em tão pouco tempo, fazendo a Champs ficar marcada na história do futebol brasileiro.

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